Sentado, numa confortável cadeira, dentro de uma sala de espera, aguardava. Estava um pouco nervoso. Nervosismo esse aumentado (e provocado em parte) pelo silêncio que reinava na sala, excepto pelo irritante som da secretária a bater no antiquado teclado do computador. Isto quando não estava a pintar as unhas de uma cor berrante enquanto cantarolava uma música dos Tókio Hotel. O dia começava bem… Tão bem que só lhe apetecia ver o Stone Cold Steve Austin sair da porta à direita da secretária e aplicar-lhe um Stuner. Ou então levantar-se e esbofeteá-la. A porta abriu-se, mas não foi Steve Austin quem apareceu. Em vez disso apareceu um indivíduo de fato e gravata, baixo, com uma barriguinha de casado. Era calvo e usava um vasto e farfalhudo bigode. Olhou para a sala vazia e susteve o olhar nele. “Entre por favor”, exclamou. Ele levantou-se e reparou (e admirou) a rapidez da secretária, fingindo-se de ocupada no preciso momento em que a porta se abrira. Entrou para um pequeno escritório, muito iluminado, apertou a mão ao homem que se apresentou como sendo Jorge Ribeiro e sentou no lado oposto da secretária de Jorge.
Jorge: Ora muito boa tarde. Tenho aqui o seu curriculum vitae Sr…. Peter Hardy… Hum. Alguma relação com…
Peter: Primo, do Jeff e do Matt.
Jorge: Primo, hem? Interessante. E como é que alguém com um nome como Hardy, no mundo do wrestling acaba em Portugal?
Peter: O meu pai emigrou para os Estados Unidos, onde conheceu a minha mãe, que acontece ser irmã do pai dos manos Hardy. Nasci em Cameron, North Carolina. A paixão pelo wrestling cedo se revelou. Treinei nalgumas federações Indys, entre as quais a OMEGA, a federação indy dos meus primos. Quando a WWE os contractou e a ÓMEGA fechou, decidi vir para Portugal com os meus pais que estavam de partida. Depois de uns anos em indys ingressei na SWWE e o resto deve estar ai explicitado.
Jorge: Sim, sim. Falência da SWWE… Confusão administrativa da E-FED… E agora está interessado em ingressar na PWA. Mas vejo que antes era conhecido por Hardy_Boy. Porquê a mudança?
Peter: Amadureci.
Jorge: Amadureceu? Como assim?
Peter: Houve certos eventos recentemente que me fizeram acreditar mais em mim como individuo. Ou seja: Hardy_Boy vinha do nome da tag team dos meus primos. Com o meu verdadeiro nome mostro mais de mim e sou mais eu próprio. Tenho mais afirmação individual. E depois, convenhamos, alguém da minha idade chamar-se boy…
Jorge: Certo. Ora vejamos, sem doenças crónicas, sem problemas dentro das federações passadas…
Peter já não ouvia nada. A sua mente viajava para algumas semanas atrás…
Peter Hardy, ainda conhecido na altura como Hardy_Boy, estava sentado na esquadra, bebendo um chá quente. Tinha a camisa manchada de sangue e estava irritado de tanto recusar um cobertor. Apesar disso a sua mente vagueava pelos acontecimentos dessa noite. O que tinha acabado de viver tinha-o mudado. Sentia-o. Mas o que mais o perturbava é que começava a ver essa mudança como algo positivo. Mas não podia. Ele não podia escapar assim. Não podia deixa-lo ganhar.
Inspector: Não se preocupe Sr. Hardy. Já acabou tudo.
Peter: *riso sem humor*
Inspector: De que se ri?
Peter: Pelo que passei hoje, diria que ele venera o “Jigsaw” John Kramer, do filme SAW. Eu sou um grande fan, e deixe que lhe diga: se ele for, ainda que só um bocadinho, tão inteligente como o Jigsaw, isto ainda não acabou.
O inspector, apreensivo, sentou-se frente a Peter e olhou-o nos olhos.
Inspector: O quê está a tentar dizer?
Peter: O que estou a tentar dizer é que nos filmes nem a morte do Jigsaw o parou. Acha que a prisão vai travar este tipo?
Nesse momento entrou um polícia na sala.
Policia: Sr. Inspector! Ele quer falar consigo e com o Sr. Hardy.
Peter e o Inspector levantaram-se e entreolharam-se. Nada de bom podia sair dali.
Jorge: Sr. Hardy?
Peter: Hum… Sim?
Jorge: Está-se a sentir bem?
Peter: Sim, sim, perfeitamente bem.
Jorge: Muito bem. Parece estar tudo em ordem. Basta proceder a uns exames médicos e em princípio, bem-vindo à PWA. Será avisa aquando do primeiro show.
Peter: Muito obrigado.
Levantou-se, apertou a mão a Jorge e saiu.
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